Crônica
contemporânea
Crônica é um
gênero textual ligado ao cotidiano, são textos curtos, onde o autor se utiliza de suas impressões ao redor de um
fato, é uma narrativa informal, intimista, que utiliza um certo lirismo, e que
geralmente está ligado ao humor ou reflexão. Os autores consagrados permanecem,
e os estilos e temas são os mais diferenciados, onde cada autor busca extrair
de um simples fato corriqueiro, o máximo de humor ou reflexão.
No Brasil,
temos uma lista de autores espetaculares, com seus estilos diferenciados e sua
maneira simples de brincar com as palavras, são alguns destes: Rubem Braga,
Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Manuel Bandeira e Sérgio Porto (Stanislaw
Ponte Preta). Abaixo iremos citar o estilo e trajetória de alguns destes e um
de seus textos.
Manuel
Bandeira (1886-1968)
Manuel
Bandeira foi cronista e poeta, os temas de suas crônicas variam de
personalidades a arquitetura, sem falar da parte cultural e artística. O autor
demonstra sensibilidade ao escrever sobre a vida cotidiana, sobre a vida
pública e as novidades da época. Além disso, sua vida particular se abria em
seus textos, falava de seus sentimentos, como as saudades, alegrias e
tristezas, isso demonstra o lado intimista da crônica.
Namorados
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Luis Fernando Verissimo (1936-)
Este autor seguiu a trajetória de seu pai,
Erico Verissimo, foi reconhecido por publicar suas crônicas nos jornais mais
famosos do Brasil e por publicar mais de 50 livros. Além de cronista, é
dramaturgo, romancista, tradutor, cartunista e músico. Em suas crônicas ele
analisava a sociedade brasileira a seu modo, o que gerava uma certa ironia e
humor, ele expunha todas as deficiências da sociedade e além disso, causava
humor por expor fatos improváveis e que aparentavam ser insignificantes.
APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA
Eu tenho o sono muito leve, e
numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de
casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá
de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como minha casa
era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não
fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali,
espiando tranqüilamente.
Liguei baixinho para a polícia,
informei a situação e o meu endereço.
Perguntaram-me se o ladrão estava
armado ou se já estava no interior da casa.
Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois, liguei de novo
e disse com a voz calma:
— Oi, eu liguei há pouco porque
tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão
com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas
situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de três minutos,
estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do
resgate , uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam
isso por nada neste mundo.
Eles prenderam o ladrão em
flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse
pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se
aproximou de mim e disse:
— Pensei que tivesse dito que
tinha matado o ladrão.
Eu respondi:
— Pensei que tivesse dito que não
havia ninguém disponível.
Luis Fernando Verissimo
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta,
1923-1968)
Sérgio Porto, mais conhecido por seu
pseudônimo: Stanislaw Ponte Preta, não era só cronista, era também músico e
radialista. Ficou famoso por deixar sua marca nos jornais, que eram o tom
satírico e suas críticas. Ele morreu muito jovem, aos 45 anos, porém deixou
como legado diversas crônicas, como a “A velhinha contrabandista” que é uma das
mais lidas da literatura brasileira.
A VELHA CONTRABANDISTA
Diz que era uma velhinha que
sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na
lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega - tudo
malandro velho - começou a desconfiar da velhinha...
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal continuava desconfiado...
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal continuava desconfiado...
Talvez a velhinha passasse um
dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia
seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar
outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era
areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal
interceptou a velhinha e, todas às vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.
- Juro - respondeu o fiscal.
- É lambreta.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.
- Juro - respondeu o fiscal.
- É lambreta.
Stanislaw Ponte Preta
Nenhum comentário:
Postar um comentário