VANGUARDAS EUROPEIAS
Vanguarda, no sentido literal da palavra, é o termo militar para uma seleta tropa de soldados que vai à frente de todas as demais, abrindo caminho. É por causa dessa desta tão importante função dentro do militarismo, que os movimentos que aconteceram nas primeiras décadas do século XX receberam o nome de ‘vanguardas artísticas’. A expressão surgiu em 1860 na França, onde como forma de protesto, alguns artistas considerados ‘não-acadêmicos’ criaram um evento paralelo ao Salon de Paris, o Salon desrefusés (Salão dos excluídos). A partir deste marco,o termo estendeu-se também aos movimentos formados posteriormente na Europa e que representaram uma nova forma de arte, totalmente voltada para a individualidade do artista, sendo esta a expressão máxima de sua subjetividade. A experimentação estética também é uma característica muito forte dentro das vanguardas, que buscavam, acima de tudo, romper com costumes existentes na sociedade até aquele momento. Dentre os movimentos vanguardistas, destaca-se o futurismo, já que foi este movimento em especial que influenciou diretamenteo discurso modernista brasileiro.
Contexto histórico
O início
do século XX foi marcado por uma reforma na sociedade como um todo. A Primeira
Guerra Mundial destruiu a Europa e fez com que estecontinente, considerado o
berço da civilização tivesse que repensar seu modo de viver.O velho continente,
destroçado, não suportava mais o estilo de vida anterior. A escassez começou a
participar da vida de todos e se fazia necessária uma reconstrução dos países
que haviam vindo abaixo após os conflitos. Mais do que isso, a sociedade
européia, que antes mesmo da Guerra já alimentava um espírito de renovação,
agora percebia quão importante era essa mudança. Nesse sentido a Revolução
industrial,já bem forte na Europa, tornou-se ainda mais significativa e
relevante. Com as novas máquinas era mais fácil e rápido produzir em quantidade
os produtos para suprir à grande população que perdeu tudo na Guerra, ainda sim
adestruição foi tão grande que houve grande demora para que todos pudessem se recompor. A Belle Epoque, que caiu junto com a
Guerra já não fazia mais sentido den tro daquele cenário caótico, e as formas
de arte que se apresentavam as sociavam a ela, da mesma maneira perderam
o significado. O momento era de introspecção, de olhar para si, de recolher os
próprios cacos. Outro marco importante, desta vez no campo tecnológico, é o
advento da fotografia. Esta invenção causou um grande alvoroço, uma vez que sua
forma de representar se aproximava muito mais do instante real e por sua vez da
realidade que a pintura, forma mais comum de se fazê-lo até então.
Os
pintores se sentiram ameaçados e pressionados a responder a pergunta: “o que
difere a fotografia da pintura?”. Nesse momento foi que os valores do
subjetivismo, que já vinha ganhando força desde o iluminismo, quando fora
criado, passou a transbordar no cenário das artes. Além de assumir o espaço
bidimensional da tela, nãomais se obrigando a retratar cenas realistas, posto
que esta necessidade começasse a ser suprida pela fotografia, o olhar do
artista passou a ser valorizado. A forma de entender o mundo de cada artista se
traduzia em cores, formas, traços e temas que não precisavam ter nenhum
compromisso com o real. A arte assumiu uma nova condição, onde o artista ganha
o papel central. E com este papel, diante de todas circunstâncias e
acontecimentos da Europa, ele começa a desenvolver um novo olhar sobre
sociedade como um todo, os modos e as condiçõ
es de
vida. As vanguardas européias surgiram e se fortaleceram
nesse
ambiente, um tanto quanto caótico, e talvez por isso, sua característica mais
forte e comum a todas seja a crítica e a negação veemente de tudo que se refira
ao passado, consequentemente fazendo uma exaltação exacerbada de tudo que se
apresentava como o novo.
O Brasil
por sua vez, ainda vive fortemente sua condição de país colonizado.
Completamente dependente dos países europeus, dos quais o modo de viver era
exaltado e copiado pela elite do país. O governo do país, que ainda vivia o
regime café-com-leite, era comandado pelo então presidente Pereira Passos, que
tinha a Europa, sobretudo a França como inspiradora, chegando a transformar a
cidade do Rio de Janeiro, na época capital da cidade, em uma réplica de Paris.
Considerando
que toda transformação social se dá de forma lenta e gradual, e se até mesmo a
sociedade europeia ainda não havia assimilado tantas
novidades
que aconteciam em seu próprio território, aqui no Brasil ainda se vivia
fortemente o art noveau, e as elites sonhavam com um estilo de vida que a essa
altura já estava em decadência na no Velho Continente.
No
Brasil, o governo do presidente Epitácio Pessoa começava a ser combatido pela
própria elite cafeeira, posto que esse se recusasse a continuar apoiando os
grandes fazendeiros, preferindo alimentar a indústria que
começava a se formar no país. O número de revoltas que surgiram nessa época foi
enorme e culminaria na revolução de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao
poder.
E foi com
essas grandes aspirações “afrancesadas” e que os grandes “coronéis do café”,
mandavam seus filhos à Europa, esperando que retorn
assem
mais “civilizados” com o requinte e a sofisticação que eram
associados a tudo que vinha dos colonizadores. Mas suas expectativas em relação
a essas viagens seriam frustradas pelas novidades europeias
Cubismo
Historicamente,
o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria
tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros.
Entretanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar
os objetos com todas as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem
abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao
espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum
compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas. Guernica,
Pablo Picasso
Na
literatura:
No que se
refere ao campo das artes literárias, instaura-se uma fragmentação da realidade
por meio da linguagem, retratada pelo uso de palavras onde as mesmas são
dispostas de maneira simultânea no intento de formar uma imagem.
O pintor
cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa
superfície
plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas.
Não
representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objetos. Representa-os como se
movimentasse em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e
por baixo, percebendo todos os planos e volumes.

Principais características:
•
geometrização das formas e volumes;
•
renúncia à perspectiva;
• o
claro-escuro perde sua função;
•
representação do volume colorido sobre superfícies planas;
•
sensação de pintura escultórica;
• cores
austeras, do branco ao negro passando pelo cinza, por um ocre apagado ou um
castanho suave.
Principais artistas
• Pablo
Picasso
• Georges
Braque
• Tarsila
do Amaral
• Rego
Monteiro
Futurismo
O
futurismo é um movimento artístico e literário surgido oficialmente em 20 de
fevereiro
de 1909, com a publicação do Manifesto Futurista, do poeta italiano Filippo
Marinetti, no jornal francês Le Figaro. A obra rejeitava o moralismo e o
passado. Apresentava um novo tipo de beleza, baseado na velocidade e na
elevação da violência.O slogan do primeiro manifesto futurista de 1909 era
“Liberdade para as palavras”, e considerava o design tipográfico da época,
especialmente em jornais e propaganda.
A
diferença entre arte e design passa a ser abandonada e a propaganda é escolhida
como forma de comunicação.
O novo é
uma característica tão forte do movimento, que este chegou a defender a
destruição de museus e de cidades antigas. Considerava a guerra como forma de
higienizar
o mundo.
O
futurismo desenvolveu-se em todas as artes, influenciando vários artistas que
posteriormente instituíram outros movimentos modernistas.
Repercutiu
principalmente na França e na Itália, onde vários artistas, entre eles
Marinetti, se identificaram com o fascismo.
O
futurismo enfraqueceu após a Primeira Guerra Mundial, mas seu espírito rumoroso
e inquieto refletiu no dadaísmo, no concretismo, na tipografia moderna
e no
design gráfico pós-moderno.
A pintura
futurista recebeu influência do cubismo e do abstracionismo, mas
Utilizava-se
de cores vivas e contrastes e a sobreposição das imagens com a pretensão de dar
a ideia de dinamismo


Na literatura
As
principais manifestações ocorreram na poesia italiana, que se dedicava às
causas políticas. A linguagem é espontânea e as frases são fragmentadas para
exprimir a ideia de velocidade. Abaixo, eis as que mais se destacaram.
•
Destruição da sintaxe e a disposição das “palavras em liberdade”.
• Emprego
de verbos no infinitivo, com vistas à substantivação da linguagem.
•
Abolição dos adjetivos e advérbios.
• Uso do
substantivo duplo, em lugar do substantivo acompanhado do adjetivo
(praça-funil, mulher-golfo, por exemplo).
•
Abolição da pontuação, que seria substituída por sinais da matemática (+, -, :,
=).
•
Destruição do eu psicologizante.
Expressionismo
A noção
do expressionismo foi empregada pela primeira vez em 1911, na revista
Der
Sturm('A tempestade'), marcando uma oposição clara ao impressionismo francês. A
visão expressionista encontra suas fontes na defesa à expressão do irracional,
dos impulsos e das paixões individuais. No expressionismo, não há uma
preocupação em relação à objetividade da expressão, mas sim, com a
exteriorização da reflexão individual e subjetiva dos artistas. Em outras
palavras, não se pretende, simplesmente, absorver o mundoe reproduzi-lo, mas
sim, recriá-lo. Entre suas características, podemos citar: o distanciamento da
figuratividade, o uso de traços e cores fortes, a imitação das artes
primitivas, etc.
Tal
movimento desenvolveu-se grandemente na Alemanha, especificamente no
período
após a Primeira Guerra Mundial, sendo um importante instrumento para a
realização
de denúncias sociais, especialmente em um momento que, politicamente, os
valores humanos eram o que menos importava. Na América Latina, o movimento
manifestou-se como uma via de protesto político.
O
expressionismo também foi marcante na literatura, cinema e teatro. No Brasil,
o
movimento encontrou sua máxima representação através da pintura, especialmente
por meio de artistas como Anita Malfatti, Lasar Segall e Osvaldo Goeldi

Caracteristicas
•
pesquisa no domínio psicológico;
• cores
resplandescentes, vibrantes, fundidas ou s
eparadas;
•
dinamismo improvisado, abrupto, inesperado;
• pasta
grossa, martelada, áspera;
• técnica
violenta: o pincel ou espátula vai e vem
•
preferência pelo patético, trágico e sombrio
Dadaismo
O
dadaísmo surgiu no ano de 1916, por iniciativa de um grupo de artistas que,
descrentes
de uma sociedade que consideravam responsável pelos estragos da Primeira Guerra
Mundial, decidiram romper deliberadamente com todos os valores e princípios
estabelecidos por ela anteriormente, inclusive os artísticos. A própria palavra
dadá não tem outro significado senão a própria falta de significado, sendo um
exemplo da essência desse movimento iconoclasta.
O
principal foco de difusão desta nova corrente artística foi o Café Voltaire,
fundado
na cidade de Zurique pelo poeta Hugo Ball e ao qual se uniram os artistas
Hans Arp
e Marcel Janco e o poeta romeno Tristan Tzara. Suas atuações provocativas e a
publicação de inúmeros manifestos fizeram que o dadaísmo logo ficasse conhecido
em toda a Europa, obtendo a adesão de artistas como Marcel Duchamp, ou Francis
Picabia.Não se deve estranhar o fato de artistas plásticos e poetas trabalharem
juntos -o dadaísmo propunha a atuação interdisciplinar como única maneira
possível de renovar a linguagem criativa. Dessa forma, todos podiam ter
vivência de vários campos ao mesmo tempo, trocando técnicas ou combinando-as.
Nihilistas, irracionais e, às vezes,
subversivos,
os dadaístas não romperam somente com as formas da arte, mas também com o
conceito da própria arte.
Não são
questionados apenas os princípios estéticos, como fizeram expressionistas ou
cubistas, mas o próprio núcleo da questão artística.
Negando
toda possibilidade de autoridade crítica ou acadêmica, consideram válida
qualquer expressão humana, inclusive a involuntária, elevando-a à categoria de
obra de arte.Efêmera, mas eficaz, a arte dadaísta preparou o terreno para
movimentos vanguardistas tão importantes como o surrealismo e a arte pop, entre
outros Não se
deve estranhar o fato de artistas plásticos e poetas trabalharem juntos - o
Dadaísmo propunha a atuação interdisciplinar como única maneira possível de renovar a linguagem criativa. Dessa forma,
todos
podiam
ter vivência de vários campos ao mesmo tempo, trocando técnicas ou
combinando-as. Niilistas, irracionais e, às vezes, subversivos, osdadaístas não
romperam somente com as formas da arte, mas também com o conceito da própria
arte

http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/internacional/images/dadaismo07.jpg
Surrealismo
O
Surrealismo tem muitas semelhanças com o Dadaísmo. É do dadaísmo que algumas de
suas características surgem: o amor ao protesto, a valorização do improviso e
da espontaneidade no manejo da linguagem. A total liberdade individual dadaísta
desaparece.
Os
surrealistas exploraram as relações da linguagem e da arte com o
inconsciente,
os sonhos e a técnica da escritura automática, que consiste em escrever sem
pensar, sob o fluxo de um impulso de extrema espontaneidade e entrega interior
ao processo da ligação entre linguagem e forças inconscientes.
Quanto ao
sonho, os surrealistas têm uma dupla e simultânea tendência. O
interesse
pelo tema deriva do fato de que valorizam Freud, vista como uma nova área de
conhecimento humano, surgida no final do século XIX. Há também uma revalorização
do romantismo. Com relação a Freud, Compagnon expõe “Freud se interessava pelo sonho
e pela livre associação de maneira bem diferente da de Breton e a incompreensão
mútua foi grande. Ela
se baseia
no fato de os elementos do sonho não oferecem, para a psicanálise, interesse em
si mesmos, mas em um contexto, que é constituído, ao mesmo tempo, pelas
circunstâncias da vida e pelas associações que o paciente fará a respeito
deles.O surrealismo, ao 794 contrário, corta, isola esses elementos do processo de sua produção e
de sua interpretação, e os dá a ler ou a ver tais como se apresentam” (1996,
p.73). Compagnon
pelo que podemos perceber,não se posiciona a favor dessa vanguarda e diverge
com ela em vários aspectos como os apresentados acima.Mas de maneira geral, o
surrealismo foi visto como um meio de conhecimento, principalmente por Breton.
Quiseram explorar o inconsciente, o sobrenatural, o sonho, a loucura, os
estados alucinatórios. Enfim, tudo que fosse o reverso da lógica e estivesse
fora do controle da consciência.
Em 1924,
funda-se o grupo oficialmente e Breton publica o primeiro Manifesto em que
expõe suas idéias. Segundo Compagnon (1996, p.72) no primeiro Manifesto em
1924, Breton colocava em julgamento o realismo e o positivismo na pintura e nas
letras, ele não se contentava mais com o anarquismo, com a negação e a
destruição: queria fundar uma nova estética. Ainda de acordo com Compagnon o
surrealismo se apresentou como o dono da verdade estética. (1996, p.73).Mais
tarde tiveram um órgão de divulgação: a revista A revolução surrealista.O
período de reflexão (1925-1930) é o momentoem que o surrealismo se interessa
por relacionar as pesquisas sobre o inconsciente com a adesão à revolução social.
Alguns surrealistas se filiaram ao partido Comunista, inclusive Breton, que
publica também duas obras fundamentais do Surrealismo: O tratado do estilo, de
Aragon, e Nadja, de Breton.


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